Gritos Mudos

...ahhhhhhhhhhh, sinto-me estranho...não sei porque, ou melhor sei e prefiro enganar-me a mim mesmo, é esta dor que aperta no peito que não me deixa respirar, que me embarga a voz e me entorpece os musculos...é a mesma dor que em tantas vezes me obriga a desviar o olhar, que me obriga a afastar, que me impele a mudar a conversa...é a falta de coragem que me corre no sangue quando estou contigo, e não me deixa dizer o que sinto por ti, é a pequenez do homem perante a grandiosidade da mulher...é o sofrer por antecipação sem sequer tentar, ao menos para ver a tua reacção...é a saudade por não te ver...é o ódio a mim mesmo por não ser capaz...enfim sei o que é na realidade, mas não o posso escrever aqui, tenho de ter forças para te o dizer...quando não sei, um dia talvez...até lá resta-me sofrer em silencio, murmurar para mim mesmo " tu és capaz", e esperar um sinal da tua parte que me faça dar o click e avançar...Porque só posso combater por aquilo que amo, amar o que respeito e respeitar o que conheço, vou lutar por ti...mesmo que no final saia derrotado...

"...só posso combater pelo que amo, amar apenas o que respeito, e no máximo, respeitar apenas o que conheço..." ...(behind blue eyes)...

O sonho...

...seguia rumo as colinas do norte, não sabia ao certo onde me dirigir, mas a esperança de encontrar mais alguma cara familiar que me ajudasse era a luz que iluminava o meu caminho. Ali estava eu, montando um garanhão andaluz, mais preto que a própria noite...o caminho era longo e o cansaço inundava as minhas veias, sentia-me a cair num sono profundo, mas não lutei para evita-lo, pois como por magia, o animal parecia saber o caminho...

Adormeci, nos meus sonhos sou assaltados por imagens de corpos alados que me rodeia, mas o quais não tem rosto...não sinto medo, algo me diz que eles me protegem, talvez sejam os meus anjos da guarda...não sei...subitamente surge um rosto, um olhos de um azul profundo, tão ternos que parecem o céu, o rosto sussura-me algo que não consigo entender, deve tratar-se de uma linguagem antiga...acordo...ali continuo eu encima do garanhão que continua a sua cavalgada rumo ao norte...

Quem me dera perceber quem são os corpos alados, e que mensagem aquele rosto me transmitiu...e será que aquele rosto pertence a um dos corpos alados??? quero acreditar que sim...mas agora tenho de me concentrar, pois a neve aumenta ao longo do caminho, o que indica que estou próximo do meu objectivo...encontar e derrotar Hades...

"...quem me dera que os teus lábios tocassem os meus...sem descansar até ao adeus, porque o meu coração palpita de emoção..."

Aquiles...o mirmidão

...a cabana do homem ficava numa encosta, toda ela era de madeira, exteriormente o aspecto não era muito acolhedor, pois as paredes encontravam-se com marcas de invernos rigorosos, ao lado um pequeno picadeiro onde descansavam cavalos. Entrei logo atrás do individuo, o interior era convidativo, uma enorme coleção de armas decorava as paredes, ao fundo um grande lume aquecia a casa e o doce odor de algo que cozia na panela convidava até o mais ceptico a entrar.

O homem disse-me para me sentar enquanto enchia duas malgas de caldo, não sei ao certo os ingredientes que o compunham, mas talvez devido a fome, pareceu-me um banquete digno de deuses.

- o meu nome é Antonihel...hummmm...não sei bem por onde começar...

- talvez por me dizeres onde estamos e quem sou...sorri ironicamente.

- nós estamos no império grego, mais concretamente na ilha de Parsos, o teu nome é Aquiles.

- Aquiles então??? e quem sou???

- és um mirmidão, é isso que simboliza o uniforme que trazes vestido...mas não um qualquer, és o líder deles, és o chefe dos mais temidos guerreiros do mundo antigo, as tuas capacidades para o combate nasceram contigo...já servis-te sobre as ordens de vários reis da grécia, mas a tragédia que se abateu sobre ti, obrigou-te a fazer um pacto com Hades o deus da guerra...

- que tragédia??? que pacto??? fala homem...

- foste traído por aquela que mais amaste, levando os teus exercitos a abandonarem-te, então quando estavas a beira da morte e da derrota fizeste um pacto com Hades...se o deus da guerra te poupasse a vida, serias um servo dedicado dele espalhando o terror e a morte pelos cantos do mundo...

Subitamente sou assaltado por flashes repetitivos de memoria, e dou por mim num campo de batalha a ser atacado por rostos que apesar de familiares não consigo recordar quem são.

-...provavelmente não te lembras de nada devido ao turbilhão mágico que hades criou em teu redor para te proteger...por lado isso é bom, porque significa que te poupou a vida, mas por outro quer dizer que tens de cumprir a promessa que lhe fizeste de espalhar a morte e o terror pelos quatro cantos da terra...

-...isso quer dizer que me converti num assassino.

-...não...ainda não cumpriste a promessa...és sim uma ameaça para todos os reinos e para todos os homens e mulheres poderosas da Grécia, pois afinal de contas és Aquiles o chefe dos mirmidões, aquele que dizem ser invencivel...

- Antonihel, estou confuso, já percebi que me atacas-te porque provavelmente existe uma recompensa pela minha cabeça...(Antonihel anuiu com a cabeça que sim)...mas se estou condenado a ser um assassino ao serviço de Hades, ou caso contrário ele leva-me numa viagem pelos infernos, porque continuo eu a ser uma ameaça????

-Pois isso tem a ver com a profecia dos oráculos...segundo a mesma tu irás quebrar esse "feitiço" ao derrotar hades em batalha, e és o único guerreiro na terra capaz de o fazer...partindo depois para a tua vingança sobre os que te trairam...

- e quem me traíu???

- Asle...a princesa dos montes do norte, era a tua prometida, e trocou-te juras de amor eterno, enquanto te iludia para conseguir derrotar-te e escravizar o teu povo...

Ao ouvir aquele nome, a minha mente parte o bloqueio que a travava e solto um enorme grito de raiva...

- Antonihel agora já me lembro de tudo...diz-me todo o meu povo foi escravizado ou ainda existem resistentes???

- A maior parte foi escravizada pois com o teu desaparecimento os animos deles foram por água abaixo, mas todos sabem que basta a tua palavra e os mirmidões voltam a formar as suas temidas falanges de combate...e ainda tens Ajax...

- Oh sim, o bravo Ajax, o meu braço direito no campo de batalha, onde está ele...

- Não se sabe ao certo, mas dizem que lidera um pequeno grupo de soldados de elite mirmidões que se encontram refugiados nos pantanos do sul, esperando por ordens tuas...

- Antonihel, tenho de partir, em primeiro lugar vou tratar da minha questão com hades e depois irei ao encontro de Ajax...a minha gratidão para contigo será eterna meu amigo, só tenho mais uma questão...na minha mente surge uma figura alada, não sei se humana se mítica, quem é???

- Talvez um arcanjo senhor...dizem que és protegido por eles desde que nasceste...lamento mas sobre isso não sei grande coisa...

- Já foste grande ajuda Antonihel, se puder fazer algo por ti...

- Tendes poupado minha vida, já é suficente senhor...os vossos feitos serão conhecidos pelos vossos inimigos, que agora também são os mesmos, pois ao ajudar-vos sou um traidor para os gregos...

- Então como prova da minha gratidão Antonihel, pega na tua espada e no teu corcel, ruma aos pantanos do sul e procura Ajax, quando o encontrares crava tua espada no chão e diz-lhe "por aqueles em quem poder não teve a morte", serás acolhido pelos mirmidões...aguardem lá por mim...

- Assim o farei meu senhor...

Vi Antonihel desaparecer na estrada, num galope rapido, sabia que se ele chegasse a Ajax estaria seguro, e algo me dizia que este homem ainda me seria muito util no futuro. Agora coloco o meu elmo enquanto monto um garanhão andaluz que estava no picadeiro de Antonihel e parto para o este em busca de Hades, mas no meu pensamento continua o ser alado que me aparecera em sonhos...

continua